Impacto do aquecimento global será “grave, abrangente e irreversível”. É o que revelou o segundo capítulo de um relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas da ONU (IPCC, na sigla em inglês) na manhã do ontem (31/03), resultado do encontro que reuniu desde o dia 25 de março, na cidade japonesa de Yokohama, autoridades e cientistas com o objetivo de alertar sobre o impacto das mudanças climáticas.
Chamado de “Sumário para os Formuladores de Políticas”, o novo texto, que analisou o impacto, adaptação e vulnerabilidade do planeta mediante às mudanças climáticas. É o segundo volume do quinto Relatório de Avaliação elaborado pelo painel da Organização das Nações Unidas (ONU). Complementar ao primeiro capítulo do relatório, divulgado em setembro passado, que abordava “A Base das Ciências Físicas as novas informações estão sendo consideradas como a avaliação mais completa já feita, sobre o impacto das mudanças climáticas no planeta.
O documento projeta que mesmo com o corte substancial das emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE), ainda assim, as previsões de que danos residuais ocorram em diferentes partes do planeta na segunda metade deste século, são “altamente confiáveis”. Para o presidente do IPCC, Rajendra Pachauri, as conclusões ampliam a compreensão das questões vinculadas ao impacto do resultado da alteração do clima e “ninguém neste planeta ficará imune aos impactos provenientes do fenômeno”. Pachauri está à frente do IPCC desde o ano de 2002.
O texto afirma que a quantidade de provas científicas dos efeitos do aquecimento global dobrou desde o último relatório lançado em 2007. O secretário-geral da Associação Mundial de Meteorologia, Michel Jarraud, alerta que se no passado as pessoas estavam destruindo o planeta por ignorância, agora já não existe mais esta “desculpa”. Integrantes do Painel dizem que até o momento os efeitos do aquecimento são sentidos de forma mais acentuada pela natureza, mas que haverá um impacto cada vez maior sobre a humanidade.
O relatório foi baseado em mais de 12 mil estudos publicados em revistas científicas. Jarraud disse que o texto é a “mais sólida evidência que se pode ter em qualquer disciplina científica”. Nos próximos 20 a 30 anos, sistemas como o mar do Ártico estarão ameaçados pelo aumento da temperatura em 2 graus Celsius. O ecossistema dos corais também pode ser prejudicado pela acidificação dos oceanos. “Na terra, animais, plantas e outras espécies vão começar a se deslocar para pontos mais altos, ou em direção aos polos”.
BRASIL: SALVE-SE QUEM PUDER
O teor do documento, o segundo de uma série de relatórios do IPCC prevista para este ano foi alvo de intensas negociações e afirma que a saúde, as moradias, a alimentação e a segurança da população estão seriamente afetadas pelas mudanças climáticas. O texto, que analisou o impacto, adaptação e vulnerabilidade do planeta mediante o fenômeno climático, aponta ainda, que a população pobre, principalmente de países tropicais, como o Brasil, será a mais afetada por situações de seca e inundação, com risco de insegurança alimentar, caso não haja planejamento para adaptar culturas agrícolas às possíveis realidades.
O físico cearense, Alexandre Costa, alerta que “os países são atingidos de maneira desigual” e a questão é muito mais entre pessoas. Na visão do pesquisador integrante do Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas (PBMC), realmente, os pobres serão os mais impactados ao contrário de uma minoria que tem as condições para se adaptar. “Isso é uma negação da lógica romantizada de que estamos todos na mesma nave”, disse ao fazer uma analogia com o naufrágio do Titanic, “onde todos estavam no mesmo barco”. Salve-se quem puder.
O segundo capítulo do relatório aponta que populações pobres que vivem em regiões costeiras podem sofrer com mortes e interrupções dos meios de subsistência devido ao aumento do nível do mar e que altas temperaturas em regiões semiáridas poderão causar grandes perdas para agricultores com poucos recursos, o que aumentaria o risco de insegurança alimentar. Regiões tropicais da África, América do Sul e da Ásia devem sofrer com mais inundações, devido ao aumento de tempestades. Regiões já vulneráveis, que registram constantemente enchentes e deslizamentos de terra, como o Sudeste do Brasil ou aquelas que já sofrem com a estiagem, como é o caso do Ceará, podem sofrer graves consequências, seja acréscimo do volume de chuvas ou processos de desertificação.
Fonte:
O Estado